Alice não mora mais aqui…

dezembro 17, 2007

 

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Em cartaz: A Casa de Alice (Brasil, 2007) 

 

Podia ser a sua, a minha, a de qualquer um. Mas a casa em questão é da manicure Alice (Carla Ribas, emocionante), carioca que mora em São Paulo com a mãe (Berta Zemel é, de fato e de direito, uma das maiores atrizes do Brasil), o marido cafajeste e três filhos. Claro que o cineasta Chico Teixeira se apóia num roteiro muito bem amarrado e numa direção de arte de tirar o chapéu (evoé Marcos Pedroso e Valdy Lopes Ferreira), mas o filme tem força narrativa por ser exatamente o que é: uma crônica contemporânea das relações humanas travadas entre pessoas comuns, que andam de ônibus, dirigem táxi, se prostituem, amam e traem igual a tantos na vida.

De invisíveis do cotidiano, cada personagem tem sua voz mais ou menos realçada ao longo da história. Há quem ache que a cegueira progressiva da avó carrega nas tintas da metáfora psicológica. Nas mãos e olhos de Berta Zemel, porém, é puro gancho para sensível interpretação. A Casa de Alice (2007) é um filme para se guardar na gaveta dos afetos escondidos. Dessa forma vai se misturar com sentimentos daninhos (e tão nossos) que muitas vezes não temos coragem de acordar.

Roteiro sentimental: os detalhes subterrâneos de algumas cenas que passam despercebidas pela maioria: o toque físico (e nunca explícito) entre os irmãos, o corpo em ebulição da mulher madura, o silêncio nada cúmplice daquela que tudo vê, mesmo perdendo a visão.